Ele perdeu sua senha e agora seus bitcoins valem milhões: a trágica história de muitos investidores

Carteiras de hardware são os dispositivos mais seguros para armazenar criptomoedas, mas não estão isentas de certas vulnerabilidades.

No mundo das criptomoedas, a promessa de riqueza rápida atraiu milhões de investidores desde que o Bitcoin surgiu em cena em 2009. Mas, para alguns, essa promessa se transformou em um pesadelo silencioso: perder o acesso às suas carteiras digitais e, com isso, fortunas que agora valem milhões de dólares. Essas histórias de chaves privadas esquecidas, discos rígidos extraviados e senhas perdidas são um lembrete brutal da duplicidade do Bitcoin: sua segurança impenetrável é tanto sua maior força quanto sua falha mais cruel.

O preço da descentralização

O Bitcoin foi projetado por Satoshi Nakamoto como um sistema descentralizado, livre de intermediários como bancos ou governos. Para conseguir isso, os usuários controlam seus fundos por meio de uma “chave privada”, uma sequência única de caracteres que atua como uma chave para um cofre digital. Sem essa chave, não há como acessar os bitcoins armazenados em uma carteira e, devido à natureza do blockchain, não há um botão de “recuperar senha” ou autoridade a quem recorrer. Se você perdê-lo, seus bitcoins estarão essencialmente condenados a permanecer inacessíveis para sempre.

Estima-se que 20-30% de todos os bitcoins minerados até hoje — cerca de 3-4 milhões de BTC — sejam perdidos, seja devido a chaves perdidas, dispositivos danificados ou proprietários que morreram sem instruções. Com o preço do Bitcoin atingindo máximas históricas (ultrapassando US$ 100,000 até 2024), esses bitcoins perdidos agora representam bilhões de dólares, um tesouro digital preso no vazio.

Histórias que agitam

Uma das histórias mais conhecidas é a de Stefan Thomas, um programador alemão que em 2011 recebeu 7.002 bitcoins como pagamento por um vídeo explicativo sobre criptomoedas. Na época, eles valiam apenas algumas centenas de dólares. Thomas anotou sua chave privada em um pedaço de papel e a armazenou em um disco rígido IronKey, mas perdeu a senha do dispositivo. Hoje, esses bitcoins valem mais de US$ 700 milhões e, depois de esgotar oito de suas dez tentativas de desbloqueá-los, Thomas vive com a angústia de saber que sua fortuna está a apenas duas tentativas frustradas de desaparecer para sempre.

Outro caso emblemático é o da James Howells, um britânico que minerou 7.500 bitcoins nos primeiros dias do Bitcoin usando seu computador pessoal. Em 2013, por descuido, seu parceiro jogou o disco rígido contendo sua chave privada no lixo. Howells passou anos tentando recuperar o dispositivo de um aterro sanitário no País de Gales, oferecendo milhões às autoridades locais para escavá-lo, mas em março de 2025, seus bitcoins — avaliados em mais de US$ 750 milhões — permaneciam enterrados sob toneladas de lixo.

Estas não são exceções. As histórias são inúmeras, desde os primeiros investidores que subestimaram o valor futuro do Bitcoin até pessoas que simplesmente esqueceram onde guardaram suas chaves. Fóruns online como o Reddit estão cheios de relatos anônimos de usuários lamentando discos rígidos formatados, celulares perdidos ou notas destruídas pelo fogo.

Um problema sem solução fácil

A tragédia dessas perdas está na impossibilidade de recuperação. Empresas como a Wallet Recovery Services estão tentando ajudar os afetados, mas só podem fazer isso se o usuário mantiver pelo menos algumas das informações originais, como uma “frase semente” ou um arquivo de backup. Mesmo assim, o sucesso não é garantido e os serviços geralmente são caros. Para aqueles que não têm nada — como Howells ou Thomas — a tecnologia atual oferece pouca esperança.

Alguns especialistas sugerem que avanços futuros na computação quântica poderão um dia quebrar a criptografia do Bitcoin e desbloquear carteiras perdidas. No entanto, isso também representaria riscos de segurança para toda a rede e está longe de ser uma solução prática em 2025. Por enquanto, os bitcoins perdidos permanecem como um arquivo imutável no blockchain, visível para todos, mas intocável.