O Facebook fez isso de novo, outro vazamento massivo de dados emergiu das entranhas de sua plataforma e desta vez de uma forma bastante bizarra, embora não seja a única coisa a que devemos prestar atenção.

Acontece que agora a empresa "Like" deixou a porta aberta para que mais de 5000 desenvolvedores de aplicativos obtenham dados de perfil da plataforma ilegalmente, embora desta vez "por engano", segundo o próprio comunicado divulgado pela empresa. No entanto, isto deixa muito claro que o Facebook e as suas políticas de segurança e controlo de acesso aos dados dos seus utilizadores continuam tão fracas como eram na altura do escândalo Cambridge Analytica.

O mais irônico de tudo isso é que o Facebook ainda está determinado a aumentar seu poder e presença na vida de seus usuários e desta vez através de sua moeda digital Libra e de sua carteira Novi, antiga Calibra. As promessas de tratamento correto dos dados privados e de não utilizá-los para vendê-los a terceiros, é uma parte central das tentativas do Facebook de se fazer ver como uma empresa séria, capaz de gerir os dados económicos e financeiros dos seus potenciais utilizadores. 2500 bilhões de usuários em todo o mundo. Uma empresa com esse perfil pode realmente lidar com dados tão confidenciais de maneira confiável? As ações e erros da empresa falam por si, e a desconfiança cresce devido à imensa falta de transparência do Facebook nesse sentido.

Mas não só isso, o Facebook teve uma história sombria de segurança e transparência ao longo da sua vida, começando pelas suas políticas mutáveis ​​e ambivalentes e, pior ainda, pelas suas práticas que nada têm de ético. Por exemplo, o fato de encontre um bug sério no software GNOME devido a uma investigação Vídeos. O erro em questão permitiu rastrear o IP e a localização de uma pessoa por meio de um vídeo especialmente modificado para esse fim. Nesse ponto, a coisa ética a fazer era que o Facebook relatasse o bug para corrigi-lo, mas isso nunca o fez. Basicamente, o que o Facebook fez foi contratar uma empresa para procurar um dia zero (uma vulnerabilidade grave do computador) e adquirir essas informações.

Ainda assim, o Facebook está a tentar demonstrar que é capaz de assumir a responsabilidade pelos dados económicos de um terço da população do planeta. Ele nos pede para instalarmos sua carteira e fazermos transações nela, nos pede para fazer parte de sua “clientela” naquele que seria o maior banco digital do mundo, tudo ao mesmo tempo mostra o quão pouco ele se preocupa com a segurança e privacidade dos dados dos usuários em sua plataforma atual, e não faz nada de útil para remediar isso.

Aprenda com a Academia Bit2Me: O que é Libra: o Facebook tem uma criptomoeda?

“Uma árvore que nasce torta, seu tronco nunca se endireita”

Certamente você já ouviu aquele ditado que diz:

Árvore que nasce torta, seu tronco nunca endireita

A verdade é que a citação é perfeita para o desempenho que o Facebook tem demonstrado ao longo da sua história, e o próprio Mark Zuckerberg o demonstrou ao aceitar que monitorizem até quem não tem conta na sua rede social; uma revelação que ele fez em um carta ao senado em que ele narra esses eventos e muitos outros.

Na verdade, na União Europeia, o Facebook agiu de forma muito antiética (abaixo dos seus próprios padrões). Em 2018, por exemplo, ele foi encontrado extraindo dados de seus usuários no continente, enviando para outros locais e vendendo esses dados, só para não respeitar o GPDR. No entanto, apesar de corrigir esta ação, o incumprimento desta lei por parte do Facebook deixa muito a desejar.

Estas ações sugerem que dar-nos acesso e poder sobre as nossas finanças é um “suicídio da privacidade”. Está dando imenso poder a uma empresa que provou ser a inimiga número um de tudo que pode ser chamado ou dito de “privado”.

Libra e Novi, as novas ferramentas de vigilância do Facebook

Neste ponto, o projeto de moeda digital do Facebook, Libra, é apenas mais uma forma desta empresa conseguir o que deseja: os nossos dados, através dos quais pode gerar dinheiro de formas nunca imaginadas. E nesta época do século 21, informação é poder, e o Facebook quer um poder que ninguém jamais teve antes. Um poder que, ouso dizer, nem mesmo o governo americano chegou a possuir.

Quando Libra e Calibra foram anunciadas, o mundo criptográfico imediatamente se voltou contra elas. A história do Facebook falava por si, e a mera ideia de que esta empresa tivesse acesso a tais dados já era assustadora. Até o Facebook em sua própria documentação indicava condições de privacidade idênticas às que levaram ao escândalo Cambridge Analytica, então só de pensar que suas políticas de segurança eram as mesmas para Libra já gerava aversão ao projeto.

Novi a nova cara do Calibra e a nova arma de vigilância que o Facebook quer em seu arsenal.

Não demorou muito para que os mesmos políticos no Congresso e no Senado dos EUA parassem este titã e, desde então, Libra tem sido um projeto mais um sonho do que uma realidade. Até a recente tentativa de abertura de um serviço de mensagens de pagamento utilizando o WhatsApp no ​​Brasil foi paralisada.

Além disso, o Facebook vem perdendo forças aliadas na tentativa de levar a Libra adiante, e a nova cara do projeto, Novi, também não tem recebido boas críticas, afinal, ainda é o mesmo titã, só que com um nome diferente, em O fim Novi e Libra continuam a ser as novas armas de vigilância que o Facebook quer no seu arsenal. E se somarmos a isso o fato de que busca fazer com que tudo isso fique em um blockchain, onde os dados serão registrados de forma “imutável”, o Facebook estará criando a ferramenta de vigilância em massa mais sofisticada da história da humanidade.

A pergunta de um milhão de dólares é: cairemos na armadilha? Pessoalmente, espero que não, porque não há nada mais valioso do que a minha vida e a minha privacidade.

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